Ulysses batia incansavelmente o lápis na caderneta em sua mão. Seus olhos iam do relógio em seu pulso ao relógio no centro da Pizzaria. Balançando seu corpo pra frente pra trás ele contava os segundos para seu horário de saído. Foi quando entrou uma família de seis pessoas, que com certeza dariam uma bela gojeta, mas também um belo trabalho, então ele não pensou duas vezes, arrancou seu avental e seu boné assim que deu 20h. Arrumou aquele cabelo de três cores (Preto, Castanho e Loiro) e endireitou seu óculos, virando para Karla, a atendente, e perguntando:
- E aí, já tá pronto ?
- Calabresa, Frango com Catupiry e Mista, né?! - Ela estendeu as pizza para ele.
- Exato - Ele pegou - Desconta no meu salário, tchau.
- Boa festa - Ela disse voltando a se concentrar no movimento.
Colocando o fone de ouvido até o talo com "Vai Começar A Ousadia", Ulysses subiu em sua moto e se foi. Sabia que não podia usar fone em motos, mas a casa dele ficava a exatos dois quarteirões. Não é possivel que ele ia ter o azar de bater a Penélope, a motoca gótica, bem no dia em que ele e Thiago completavam 1 ano morando juntos.
Chegando no Prédio 13, ele tirou o fone para prestar atenção nos próprios passos, ele não queria estragar a surpresa, então foi subindo as escadas degrau por degrau e girou a maçaneta do apartamento 3B com cuidado, mas ao entrar encontrou seus amigos o esperando com uma festa surpresa:
- SURPRESA! - Eliza, Pam, Bruno 1 e Bruno 2 gritaram juntos.
- PIZZA - Mas Thiago correu na direção do amigo, quando viu o quê ele havia trazido.
- Gente, não é que tu lembrou mesmo - Ulysses disse olhando a sala enfeitada enquanto entregava a pizza para a felicidade de Thiago.
- Como se eu fosse esquecido - Thiago sentava no sofá abrindo as pizzas.
- O quê?! Thiago?! Esquecido?! Imagina - Ulysses ria.
- Te saí que eu que te lembrei - Pam dizia para Thiago enquanto abraçava Ulysses.
- Que bom que vocês vieram - Ulysses dizia abraçado com Pam e ollhando seus amigos.
- É claro que gente ia dar um jeito de vim - Eliza dizia puxando sua namorada de volta pro seus braços arracando um sorriso do garoto.
- É - Bruno 2 sorriu. Ele não era de falar muito.
- Agora, deixa eu aumentar o som, pelo amor de Alain Turing - o namorado de Bruno 2, Bruno 1 dizia enquanto deixava "Buzina" no último volume para o prédio todo escutar.
Bruno e seu namorado dançavam em um quanto enquanto Pam e Eliza já haviam sumido da festa. No sofá, Ulysses e Thiago conversavam sobre aqueles 365 dias.
- Caraca, nem parece que já faz 1 ano.
- Né isso - Thiago concordava mas com a pizza na boca - Parece que foi ontem que tu me ligou.
- hahaha - Ulysses ria ao lembrar da cena.
- "Thiago, se eu te chamasse pra dividir uma casa, tu ia?!" - Ambos falaram ao mesmo tempo imitando a voz de Ulysses.
- Custava convidar logo?! - Thiago riu.
- Mas você topou rapidinho.
- Ah, mamãe tava ficando insuportável já - Thiago revirou os olhos - As indiretinhas e o modo que ela criticava tudo. Não aguentava mais.
- Nem me fale - Ulysses concordava.
- Ei, que isso - Thiago empurrou o amigo de leve - Cada um reclama da sua própria mãe.
Os dois voltaram a rir dos seus próprios problemas. Na época parecia que sem as mães eles iam morrer, mas juntos acabaram dando a volta por cima e se apoiando um no outro. Se naquele momento eles podiam fazer piada disso, é por que tudo já estava bem de novo.
- Gente, vocês não tão ouvindo a campainha?! - Pam saiu irritada do banheiro com Eliza.
- Ai, a gente tava distraído, foi mal - Ulysses respondia.
- É, a gente percebeu - Eliza disse sentando ao lado de Thiago.
- Pois não? - Pam abriu a porta com um sorriso, mas que so olhar para quem estava tocando a campainha, se fechou e ficou pálida - É... Thiago... É pra você.
- Pra mim?! - O garoto foi desconfiado. Seus amigos geralmente não tocam a campainha, só vão entrando. Mas ao chegar na porta sua pele negra rapidamente ficou mais branca que a da branca de neve - Mãe?!
A festa rapidamente chegou ao fim. Thiago deixou sua mãe esperando no quarto para tentar se despedir de seus amigos, mas não teve jeito, todos estranharam muito aquela situação e não teve nenhuma alma viva que se retirou sem antes desejar boa sorte. Ulysses ficou sentado no sofá da sala, enquanto via seu amigo respirar antes de entrar no quarto.
- Oi - Ele sentou a beira da cama.
- Não vai nem me dar um abraço? - Ela abriu os braços.
- O quê você tá fazendo aqui? - Ele disse a fazendo fechar os braços.
- Eu não sabia mais pra onde ir - Ela disse caindo no choro.
- O quê houve? Aconteceu alguma coisa com o papai? - Thiago se aproximou de sua mãe.
- Aconteceu - Ela levantou seu olhar irritada - Aquele desgraçado me traiu.
- Como... - Thiaga estava incrédulo e mal pode terminar uma frase antes que sua mãe continuasse.
- Agora ele tá lá com aquele nojento.
- O quê?!
- Seu pai, me traiu com um homem, Thiago - Ela disse - Um viado.
O garoto não sabia como reagir a isso. Não estava esperando. Ele devia ficar feliz? Triste? Ele não sabia. Ele só estava confuso e ao mesmo tempo, tentando entender. Agora fazia sentido seu Pai não ter tido nenhuma reação quando o filho se assumiu, devia estar tão confuso quanto o próprio.
- Ele expulsou a senhora de casa?!
- Não, eu que quis sair - Ela respondeu como se fosse superior - Tudo naquela casa me lembrava ele.
- Entendi.
- Mas agora eu nem tenho aonde ficar, então eu pensei... Eu pensei que...
- Pensou em ficar aqui? - Thiago olhou sério para sua mãe.
- Se você não quiser, tudo bem.
- Não, eu... Eu só preciso falar com o Ulysses.
- Por quê? Esss casa não é sua também?! Eu sou sua mãe.
- É, mas foi ele que ficou comigo durante esse tempo todo - Thiago saiu do quarto já irritado.
Ele ficou parado na porta por alguns segundos sem saber o quê fazer. Ulysses ficou olhando-o parado também sem saber o quê falar. Ele tentou se aproximar, mas Thiago fez um "não" com a cabeça e ele mesmo foi se sentar com o amigo e contou tudo o quê havia acontecido.
- Ela... Vai ter que ficar aqui por um tempo - Ele o olhou - Tudo bem?
- Thiago, eu sei que a sua mãe o machucou tanto quanto a minha - Ulysses segurou a mão do garoto - Mas também sei que se fosse minha mãe batendo na porta, eu não pensaria duas vezes antes de ajuda-la.
- Obrigado - Thiago o abraçou.
- Ei, você sabe que sempre vai poder contar comigo, né
O discurso foi lindo, mas Ulysses sabia que não ia ser fácil. E não foi. Primeiro foram semanas, depois 1 mês, 2 meses.
Ela começou calada, mas com o tempo ela falava sobre Thiago estar "solto" demais, sobre a casa estar bagunçada, sobre o cabelo dos meninos estarem muito grande. Ulysses só jogava uns olhares para Thiago que se fingia de surdo e cego. Mas Ulysses não tinha a mesma paciência. E em um almoço, orquestrado por Ulysses, ela resolveu testar a paciência dos meninos.
- Empadão - Ulysses colocou o prato na mesa.
- Empadão é almoço agora? - Ela colocou um pedaço em seu prato.
- Se eu fiz no almoço, é - Ulysses respondeu sorrindo.
- Ah, claro, você que fez - Ela virou seu pedaço vendo se estava queimado. E estava - Tá explicado.
- ... - Ulysses engoliu seco e virou para Thiago com a cara vermelha de raiva.
- Eu amei. - Thiago disse.
- Óbvio, faz tudo pra agradar ele - Ela disse fazendo um sinal da cruz - Que Deus perdoe.
- É, isso, eu vou dormir na Pam, hoje, okay?! - Ulysses se levantou e pegou sua mochila.
- Não, por favor, espera - Thiago se levantou também.
- Eu não sei que tipo de namoro é esse que vocês traem um ao outro, depois falam que viado é só putaria e vocês querem... - Antes que ela pudesse terminar a frase, Thiago surtou.
- JÁ FALEI QUE A GENTE NÃO É UM CASAL - Thiago bateu na mesa assustando a mãe.
- Eu já vou indo, Thiago.
A mãe de a Thiado via seu filho ir atrás do "amigo" com o choro engatada na garganta. Não interessa se até agora ela não tinha visto eles trocaram um único selinho, estava na cara que eles estavam juntos e ela temia pela alma do filho.
Do lado de fora, Ulysses socava a parede para não precisar socar a cara da mãe do amigo.
- Ulysses, fica, vai.
- Acredite, eu queria ficar na MINHA casa - Ulysses disse - Mas eu também queria respirar um pouco.
- Eu sei que esses últimos meses não foram muito legal.
- Lembra por que a gente foi morar junto? Para nossas mães pararem de nos tratar como "erros" e é exatamente isso que ela tá fazendo contigo, tudo de novo - Ulysses respirou fundo - Você precisa conversar com ela, Thiago.
E então Pam, abriu a porta do 3A, já escutando a voz do Ulysses.
- Eliza tá em Castanhal ainda né?
- Tá.
- Ótimo.
Thiago viu Ulysses entrando na casa de Pam e Eliza meio cabisbaixo. E enquanto Pam fechava a porta, ela lançava um olhar que talvez nem queria dizer nada, mas que Thiago entendeu como "Você sabe o quê fazer".

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